
Comunicação na interação com populações mais vulneráveis
Esta entrevista é real e o nome Carlos é fictício
O Carlos é um rapaz ex-toxicodependente, tem 30 anos e começou o tratamento de desintoxicação há 6 anos. Na entrevista que se segue ele vai falar-nos um pouco sobre a sua experiência.
1 - Quando e como foi que começou a consumir drogas?
R - Tinha 15 anos quando fumei o primeiro charro, sentia-me sozinho e sei que não é desculpa mas foi como me senti. Os anos foram passando e eu comecei a conhecer outros tipos de amizade, e fui ficando cada vez mais dependente, mas nessa altura já não era do charro mas droga pesada.
2 – Notou alguma diferença na forma como o atendimento hospitalar, antes e depois de consumir drogas?
R - Sim, mas dependia onde e quem, há pessoas que me queriam ajudar e me aconselhavam, outras parecia ter nojo ou medo não sei, os médicos eram simplesmente profissionais.
3 – Algum dia, nos serviços de saúde, se sentiu discriminado, face sua condição económica e estado social?
R - Sim, uma vez fui ao centro de saúde porque precisava de uma consulta urgente devido ao consumo de drogas, os meus dentes ficaram acabados, não aguentava as dores e não me arranjaram médico. Depois ainda lá chega uma metida a rica e arranjaram-lhe logo, ainda falei mas vieram mil desculpas.
4 – Da sua experiencia a nível hospitalar, acha que todos os intervenientes (médicos, enfermeiros e técnicos auxiliares de saúde) sempre lhe prestaram o apoio/atendimento mais adequando?
R - Não,mas já em Itália e em Espanha o atendimento é melhor.
5 – Já teve alguma situação menos agradável perante o seu “relacionamento” com a entidade de saúde?
R - Não.
6 – Como acha que a sociedade em geral vê o individuo que consome drogas?
R - Ainda existe muito preconceito e até medo, mas até se entende há alturas que perdemos o controlo de nós mesmos.
7 – Já sabemos que na sociedade, infelizmente, ainda circula imensa descriminação. Acha que essa mesma atitude ainda se encontra dentro do sistema de saúde, especialmente nos assistentes operacionais sem formação específica?
R - Acho que depende onde somos atendidos, encontra-se de tudo.
8– O que gostava de ver alterado no serviço nacional de saúde e no atendimento que é prestado aos utentes?
R - Gostava que quando vamos ao médico, não fossemos olhados de lado por algumas pessoas.
Agradecemos ao "Carlos" a cooperação nesta entrevista.
