
Comunicação na interação com populações mais vulneráveis
Esta entrevista é real e o nome João é ficticio.
O João é um rapaz homossexual, com 22 anos e descobriu que estava infetado pelo VIH. Segue uma pequena entrevista sobre a sua relação com as entidades de saúde.
1 - Sabemos que existem várias formas de transmissão do VIH, como por exemplo na partilha de seringas, na gestação/parto e por relações sexuais desprotegidas. No caso do João, como foi infetado?
R - No meu caso a forma de transmissão foi através de relação sexual desprotegida. Tinha um parceiro estável, no qual eu pensava ser de confiança e por esse motivo confiei-lhe a minha saúde. Na sequência dessa mesma confiança contraí o VIH.
2 - Quando e como o João descobriu que estava infetado?
R - Foi à cerca de 2 anos, apareceram-me uns pequenos caroços no pescoço e na zona genital que eu não achava normal, foi aí que marquei uma consulta com a minha medica de família para saber o que se passava com o meu corpo. Fiz exames, e ela dizia que não era nada de especial, foi então que me encaminhou para o hospital de Viseu e aí sim mandaram-me fazer todos os exames para despiste, um desses exames era o de HIV e esse mesmo deu positivo.
3 – Notou alguma diferença na forma como o atendimento hospitalar foi processado, antes e depois de ter descoberto que estava infetado?
R - Não notei diferença alguma, sempre foram atenciosos para comigo e sempre me trataram como uma pessoa “normal”!
4 – Algum dia, nos serviços de saúde, o João se sentiu discriminado, face à sua condição económica, estado social ou orientação sexual?
R – Não, nunca!
5 – Da sua experiencia a nível hospitalar, acha que todos os intervenientes (médicos, enfermeiros e técnicos auxiliares de saúde) sempre lhe prestaram o apoio/atendimento mais adequando?
R - Sim. As pessoas que trabalham com os seropositivos, no meu ponto de vista, têm um atendimento adequado, sabem deixar um paciente a sentir-se à vontade porque de certa forma o problema já não é fácil e se o atendimento não fosse bom/adequado iria ser ainda mais difícil para o paciente.
6 – Já teve alguma situação menos agradável perante o seu “relacionamento” com a entidade de saúde?
R – Pode por vezes ter acontecido algo menos agradável, mas nunca senti realmente nada de relevante. Dias maus todos temos.
7 – Como acha que a sociedade em geral vê o individuo que se encontra infetado pelo VIH?
R - Na maioria das vezes a sociedade vê-nos com preconceito, como se uma pessoa por dar um beijo ou um aperto de mão se transmitisse a doença… Também acho que isso tem muito a ver com as campanhas contra HIV que só são chamadas de SIDA, e a palavra SIDA é forte. Para se chegar a esse nível a pessoa já terá de ter deixado o VIH desenvolver até ao colapso. Quando se tem SIDA já não há salvação. Dessa forma, quando fazem campanhas, devia ser contra o VIH e não SIDA.
8 – Já sabemos que na sociedade, infelizmente, ainda circulam imensos mitos e falsas informações acerca do VIH e dos portadores do vírus. Acha que essa mesma falsa informação ainda se encontra dentro do sistema de saúde, especialmente nos assistentes operacionais sem formação especifica?
R - Pessoalmente nunca tive esse tipo de problemas, embora todos saibamos que muita gente que trabalha num hospital não tem formação adequada.
9 – O que gostava de ver ser alterado no serviço nacional de saúde e no atendimento que é prestado aos utentes?
R – Na minha opinião, os utentes deviam ter um atendimento mais personalizado e não ser apenas tratados como números…
Agradecemos ao "João" a cooperação nesta entrevista.

